Partimpim renasce em “O Quarto”: Adriana Calcanhotto fala ao TMDQA! sobre novo álbum após 12 anos

Partimpim renasce em “O Quarto”: Adriana Calcanhotto fala ao TMDQA! sobre novo álbum após 12 anos
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Crédito: Leo Aversa

Adriana Calcanhotto retorna com seu heterônimo infantil, Adriana Partimpim, em um novo álbum intitulado O Quarto, lançado 12 anos após seu último trabalho, Tlês e comemorando os 20 anos do primeiro trabalho. Produzido por Pretinho da Serrinha, o disco mantém a essência lúdica e inventiva que marcou a trajetória de Partimpim, mas agora com uma forte conexão ao presente. 

Com músicas autorais e de outros artistas, O Quarto reflete o mundo atual, abordando temas como a luta de Malala Yousafzai, traz reflexos da crise climática no Rio Grande do Sul (terra natal de Adriana) e até mesmo sucessos contemporâneos do TikTok.

Partimpim, apesar de nascer em 2004, segue sendo criança, imune à passagem do tempo. A personagem não envelhece como seus ouvintes, mas responde às mudanças do mundo ao seu redor. As faixas, que misturam brincadeira e seriedade, convidam as crianças e os adultos a “inventar o mundo”, construindo uma realidade mais bela e esperançosa. Com arranjos delicados (inspirados em Xande Canta Caetano, também produzido por Pretinho) o disco é um manifesto poético e alegre, guiado por uma sonoridade cuidadosa e colaborativa.

A abertura do álbum, “O meu quarto”, estabelece o tom do projeto, com versos que celebram a liberdade e a criatividade. O trabalho também se destaca pelas colaborações, como a releitura de “Atlântida”, de Rita Lee, e “Tô bem”, da banda Jovem Dionísio, além da homenagem à ativista paquistanesa em “Malala (O teu nome é música)”. Pra completar, a voz grave de Arnaldo Antunes ganha tons cômicos em “Boitatá” — parceria entre Marisa Monte, seu filho Mano Wladimir e o próprio Arnaldo.

O disco, com uma atmosfera lúdica e ao mesmo tempo profunda, é um convite à reinvenção e à criação de novos mundos, através do olhar encantado de Partimpim. Essa é uma oportunidade para a própria Adriana Calcanhotto redescobrir seu lado brincante.

A artista conversou com o TMDQA! sobre o lançamento. Confira abaixo!

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A versão de Beatles, antes cantada por Rita Lee e agora regravada pela Partimpim

TMDQA! Entrevista: Adriana Calcanhotto

TMDQA!: Adriana, eu queria começar esse papo colocando a conversa em dia . Quando a gente se falou da última vez, você estava no podcast Tenho Mais Discos e eu te perguntei se a Partimpim ia se aposentar mais cedo. E você me disse que ela estava ali só brincando, mas sempre por perto, né? E aí eu queria entender o que é necessário para que a Partimpim decida convidar o restante de nós para a brincadeira, como que ela decide que é hora de aparecer para o mundo de novo? 

Adriana Calcanhotto: Essa é uma pergunta que você deveria fazer para ela, eu não sei. Mas, assim, quando eu lancei o primeiro, eu me lembro de dizer isso, que o desejo era de fazer uma discografia no sentido de quando tiver vontade e repertório e condições de fazer, motivação para fazer e um tempo para fazer, para poder lançar. A ideia era essa, fazer alguns discos, tantos quanto possível.  E então, quando começou a conversa sobre 20 anos da Partimpim, eu fiquei pensando um pouco: será que eu gostaria de estar comemorando só 20 anos olhando para trás? Será que não seria mais a cara da Partimpim lançar um disco novo justamente nos 20 anos? E foi isso que aconteceu. Eu achei mais divertida essa ideia. 

TMDQA!: Com certeza, não estou reclamando! Agora, a Partimpim é de seu tempo, digamos assim. E o tempo passou para a gente, mas não necessariamente no mundo dela. O público dela cresceu, talvez até você já consiga encontrar os fãs piticos da Partimpim lá no início, hoje, carregando seus próprios filhos para ouvir suas músicas e tal. E aí eu queria entender se já está dando para você ter essa percepção, dessa diferença de tempo, a relação das novas gerações e dos seus fãs antigos da Partimpim. Com esse retorno, qual foi a recepção que você teve das primeiras músicas? Você nota alguma diferença nesses momentos? 

Adriana Calcanhotto: É difícil dizer. Esse retorno, na verdade, eu tenho no momento do show, e vai ter show no ano que vem. Essa é a hora que eu consigo sentir melhor, assim, né? Como é que você chega, e sobretudo na mistura de públicos que o show tem, de crianças literalmente de todas as idades, pessoas de todo jeito, um espectro bem amplo de público. E aí é que eu vou reencontrar com esse público que hoje tem 20 anos, como a Partimpim. Enfim, essa resposta é mais no show.

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TMDQA!: Tá certo. Agora, eu estava lembrando de quando eu fui no show da Partimpim, não lembro o ano exato.  Mas naquela época, a música que era feita para crianças era um panorama bem diferente do que a gente vê hoje. Tinha você, tinha o Pato Fu, o Palavra Cantada, um Pequeno Cidadão que estava mostrando que criança não gosta só de tecladinho em rima. E hoje isso é mais expressivo. Quem já tentou comprar um ingresso para ver o Tiquequê, para ver o Mundo Bita sabe do que eu estou falando! E aí eu queria entender como você analisa esse panorama, o que mudou de lá para cá? Você se mantém atualizada, do que está rolando na música infantil, como é para você? 

Adriana Calcanhotto: Eu acho que naquele momento que você estava falando, parece que tinha, na média, um único jeito de pensar, disco para criança, tinha um modelo padrão. E hoje não é mais assim, a coisa ficou muito mais pulverizada em função da internet, das redes e de tudo. Então tem mil maneiras, ainda bem, de se fazer as coisas. Antes a gente tinha muito mais dificuldade por causa desses padrões. Um disco para criança tem que ser “assim”. A primeira vez que eu falei de disco para criança, disseram “Não, mas você não tem um programa na TV”. E hoje não tem mais isso, né? Ainda bem. 

TMDQA!: Com certeza. Agora, eu estava reouvindo aqui O Meu Quarto e é meio que um convite para todo mundo entrar nesse mundo de imaginação. Eu queria entender se para você, enquanto compositora, enquanto artista, é fácil ou é um desafio entrar nesse mundo mais brincante, mais sem regras. 

Adriana Calcanhotto: É, quando eu consigo, quando é dado o momento, esses quatro momentos [os quatro álbuns da Partimpim], parte de mim, fica muito mais divertido a vida, de fato. Porque os adultos se levam muito a sério, criam problemas por criar, por hábito de criar, porque engessam as coisas, e aí o mundo das crianças fica muito mais interessante. Então… Quando eu entro neste mundo, literalmente, fica bem mais difícil depois de voltar para o mundo adulto. E essa é a verdade. 

TMDQA!: Não é tão colorido, né? No mínimo. 

Adriana Calcanhotto: Não, cada vez menos colorido, mas eu acho que este convite de “vamos inventar o mundo” que a Partimpim faz, ele é para isso mesmo, para inventar o mundo. Se as crianças têm essa capacidade de pensar que elas podem inventar o mundo, os adultos acham que já não podem. E de certa forma, já não podem. A minha geração, por exemplo, poderia ter feito muito mais pelo clima, pelo meio ambiente, do que o que fez. Então, nesse sentido, também é mais um motivo que me anima de fazer trabalho para a criança, sabe? De estar falando direto para as crianças. Falando com elas. 

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TMDQA!: E pensando em brincar, só de olhar a ficha técnica, dá para ver que você sempre convida gente do maior calibre para gravar, isso independente de ser Adriana Calcanhotto ou Partimpim. Queria descobrir como é para você estar em contato com esse lado brincante de gente que a maioria de nós leva muito a sério. Eu estou falando do Arnaldo Antunes, de Boitatá, ou qualquer um dos grandes músicos que você trouxe para o disco! Quando você está em estúdio, esse novo ambiente, esse novo universo, permite surgir outras camadas que você não conhecia, até de colaboradores antigos seus? 

Adriana Calcanhotto: Sim, o tempo todo, as gravações da Partimpim, os shows, tudo. É muito rico de camadas, porque as pessoas trazem muita coisa. Elas vem de um jeito, também com o lado criança mais aflorado. Elas vêm com mais espontaneidade, sem querer impressionar o público, sem uma série de coisas que elas podem vir quando elas vêm para uma gravação adulta, sabe? Então, é um processo… Quer dizer, Partimpim detona as coisas, mas é um processo totalmente coletivo, né? Música é um troço coletivo. Tem que ser. 

TMDQA!: E aí, depois vocês compartilham com a gente, que ganha uma vida ainda maior. E eu estava curiosa se você pretende fazer o lançamento físico do novo disco, considerando que a gente está em um novo momento mercadológico do que quando a Partimpim começou os lançamentos. Eu até tenho aqui o vinil do Tlês e uma filha de quatro anos que adora colocar na vitrola, especialmente por ser rosa! Talvez seja uma oportunidade de reconectar essa turminha nova com o analógico, não? O que você está pensando sobre isso? 

Adriana Calcanhotto: É, a gente vai pensar. O lançamento vai ser primeiro digital e essa conversa a gente está tendo com a Sony ainda. Eu acho que seria interessante ter todos em vinil. Pode ser uma ideia boa. Mas por enquanto, estamos só no lançamento mesmo, assim, dessa forma os clipes vão saindo.

TMDQA!: Entendi. Agora, nesse convívio esporádico em que você tem essa possibilidade de estar em contato com seu lado Partimpim, ela traz à tona lados da Calcanhotto que você não conhecia? Quer dizer, poderia ser uma jornada de autodescoberta para você também? 

Adriana Calcanhotto: Ah, certamente. Seguramente. E elas são diferentes em muita coisa e eu acho que isso diz muita coisa. Tanto dela quanto de mim.

TMDQA!: E só para finalizar, você comentou que ano que vem teremos shows. Tem algo que você possa adiantar? Vai ser uma turnê? Vai ser com alguns shows mais esparsos? 

Adriana Calcanhotto: Não, a ideia é fazer uma turnê. O repertório é feito dos quatro álbuns, porque tem algumas canções esparsas, coisas que tinham só no DVD ou participação, mas vão ser só canções dos quatro álbuns. Então, vamos compor o repertório. 

TMDQA!: Perfeito. Muito obrigada pelo seu tempo, Adriana. Foi ótimo colocar o papo em dia.

Adriana Calcanhotto: Bom falar com você. Obrigada!

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