Gene Hoglan, lendário baterista do Dark Angel, trouxe à tona novamente um assunto que sempre rende discussões entre os fãs de metal: a possível influência da faixa-título do álbum Darkness Descends, lançado em 1986, na icônica “One” do Metallica, que só veio a público dois anos depois.
Em uma entrevista para o podcast That Metal Interview, Gene abriu o jogo sobre como foi a primeira vez que ele ouviu a música do Metallica. Ele explicou que, na época, as coisas eram bem diferentes (Transcrição via Blabbermouth).
“Isso foi antes do YouTube, antes do streaming. Se o álbum ainda não tinha saído, você tinha que ouvir no rádio para escutar. Naquela época, a KNAC em Los Angeles era a estação de rádio de rock em todo os EUA, sem dúvida, e essa nova música [do Metallica] estava tocando em toda a KNAC. E eu admito, eu tinha minhas fitas cassete no meu carro. Eu não estava ouvindo muito a KNAC, mas eu estava recebendo telefonemas e mensagens de amigos dizendo, ‘Ei, cara, você já ouviu a nova do Metallica? Espera só até você ouvir.’ E eu não dei muita bola, mas quando ouvi, eu entendi do que todo mundo estava falando.”
A curiosidade sobre como Lars Ulrich, o baterista do Metallica, poderia ter tido contato com “Darkness Descends” a tempo de “pegar emprestado” o padrão de bateria de Gene é grande. De acordo com Hoglan, a resposta pode estar em Jason Newsted, que se juntou ao Metallica em 1986.
“Eu pensei – porque eu sempre adoro tentar descobrir a genealogia ou a linhagem de riffs, ideias e conceitos – ‘O que veio aqui? O que veio primeiro?’ E eu lembro de ter tido uma conversa com Jason Newsted quando ele estava no Flotsam And Jetsam, e Darkness Descends estava saindo. Doomsday For The Deceiver (do Flotsam And Jetsam) já tinha saído. Estávamos nos bastidores do Country Club (em Reseda, Califórnia). Estávamos no estacionamento batendo papo e falando sobre metal e ele estava falando sobre como era um fã do Dark Angel. E é isso que eu me pergunto. No começo parece uma coincidência. É uma batida de bateria. Mas como a letra de abertura [de “One”] é ‘Darkness imprisoning me‘, eu fico meio assim…”
Gene deixou claro que nunca se sentiu “ofendido” por Lars ter usado um de seus licks de bateria. Pelo contrário: “Eu me senti grato”, disse ele. “Eu me senti agradecido. Você fez este riff, essa coisa que eu escrevi, nós escrevemos, tanto faz, você acabou de torná-lo lendário. Obrigado, Lars. Você é o padrinho de tudo o que fazemos. Por favor, se eu tiver algo que você queira pegar emprestado, você é bem-vindo. Absolutamente.”
Mas a história não para por aí. Hoglan revelou que outro riff do Dark Angel já havia aparecido em uma música anterior do Metallica. “Eu lembro de ouvir ‘Battery’ do Metallica”, ele recordou. “A primeira vez que ouvi, eu falei, ‘Ei, Jim [Durkin, então guitarrista do Dark Angel]. Esse é o riff de ‘Welcome To The Slaughterhouse’ do álbum We Have Arrived (do Dark Angel).’ Eu pensei, ‘Sim, esse é o mesmo riff.'”
Gene até brinca que ele é a “polícia do riff”: “Eu sou a polícia do riff. Eu sou a polícia do riff original. Eu poderia te dizer onde outro riff soa exatamente como este riff. E (eu ouvi isso) admitidamente de pessoas que dizem, ‘Nós roubamos isso de você. O outro cara da minha banda, ele escreve e está escrevendo algumas músicas clássicas de metal que vão entrar para os anais da história. Ele está pegando emprestado da sua banda’ ou algo assim. E eu fico tipo, ‘Uau. É louco como isso funciona.'”
Apesar das semelhanças, o respeito de Hoglan pelo Metallica e por Lars Ulrich é evidente. “Eu me pergunto se veio daí, mas o Metallica são os pais. Lars Ulrich é o padrinho do que fazemos e Bill Ward [do Black Sabbath] é o padrinho do que todos fazemos. Então, Lars sempre terá muito o meu respeito e nós agradecemos por ele fazer isso. E sabe quem toca aquela batida de bateria [ de “One”] melhor do que quase qualquer um, até mesmo eu? James Hetfield. Você nunca o ouviu quando eles fazem aquela coisa de bateria no palco? James Hetfield senta na bateria e ele toca, e ele toca aquela batida, e é tão sólida. Eu fico tipo, ‘Deus, ele toca isso melhor do que eu. E eu escrevi essa coisa maldita.’ Então, aí está. Mas somos muito gratos ao Metallica por como eles nos ajudaram nesses pequenos anais da história.”
A piada do processo e a inspiração
Em 2019, Gene já havia comentado sobre o assunto, brincando que uma vez pensou em processar o Metallica por “copiar” “Darkness Descends” em “One”. Ele revelou essa conexão enquanto falava sobre a evolução da bateria de bumbo duplo no podcast Let There Be Talk, de Dean Delray. Quando Delray trouxe “One” como exemplo do uso de sextupletos em uníssono, Hoglan foi direto:
“Eu vou te dizer abertamente, isso vem de uma música do Dark Angel. Isso vem de ‘Darkness Descends’. E é bem conhecida na cena. Assim que o Metallica lançou ‘One’, eu recebi tantos telefonemas dizendo, ‘Você sabe que esses caras estão te copiando.’ Nós tínhamos o engenheiro de som (de longa data) do Metallica, ‘Big‘ Mick (Hughes), nós o tivemos em uma turnê, e o Metallica estava concorrendo ao Grammy na época, mas ainda não tinha sido anunciado nem nada. E eu estava brincando que, ‘Se eles ganharem o Grammy, eu vou processar.’ Eu estava brincando, claro! E Mick disse, ‘Você deveria. Eles provavelmente te dariam cem mil para te calar.’ E eu estava tipo, ‘Eu não vou me tornar o pária da cena do metal processando o Metallica.’ Todo mundo roubou riffs do Metallica.”
Quando Delray perguntou se a inspiração em “One” era só na bateria ou na parte musical também, Hoglan não hesitou: “Tudo. A parte da bateria, definitivamente. E é por isso que achei meio engraçado. A primeira linha em tudo é, ‘Darkness…’ E vem direto de “Darkness Descends”, faixa de abertura do segundo disco [do Dark Angel]. Então, assim que você ouve, você percebe.”
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