Sepultura (Live Review): Virada Cultural 2025

há 3 semanas 26

O Sepultura se apresentou na Virada Cultural, edição de 2025, no dia 25 de maio (domingo), em São Paulo, capital. O evento anual ocorre desde 2005, assim sendo a sua 20ª edição até então. Em seus primeiros anos de existência, o festival tinha um formato na qual as bandas de Rock e Metal se concentravam na região da Praça da República, centro de São Paulo. O local, em resumo, era reservado para o palco das bandas de Rock e Metal. Portanto, o acesso era amplamente favorável.

No entanto, a coisa começou a mudar de figura e, com as mudanças no cenário musical nacional, a localização do palco do Rock era alterado constantemente, até que passou a figurar em locais de difícil acesso. Contudo, a edição de 2025 jogou toda essa estrutura para a região do Butantã, mais precisamente na Av. Pirajussara. Ainda sim, porém, conseguiu fazer com que o público se deslocasse aos montes até lá.

O Sepultura, por sua vez, estava seguindo com a sua agora mais prolongada ainda turnê de despedida intitulada Celebrating Life Through Death e tratou de aproveitar a ocasião do evento popular para realizar um show com músicas que percorrem quase toda a discografia. O evento contou com a abertura das bandas Fresno e Dead Fish. Ambas as apresentações fizeram marmanjos barbados suarem pelos olhos e eu vi. No entanto, não adianta esconder! Afinal, quem pensa que show de banda emo só tem menina está muito enganado. Os “aironmendes” estavam lá como um batalhão emotivo e cantando cada canção das respectivas bandas.

Expectativa alta para ver o Sepultura Vs. organização precária

Esse subtítulo resume bem a situação ocorrida, pois a localidade afastada deixou a desejar e o mais grave foi com relação ao espaço reservado para os shows. Placas de metal foram colocadas nas laterais do palco situado em um trecho da Av. Pirajussara. Assim, impedindo quem chega ao local de poder assistir normalmente e, consequentemente, transformando o local em uma caixa de sapatos. Afinal, o lugar estava abarrotado de pessoas. Quem já estava lá não arredou o pé e muito mais gente ia chegando. Porém, nem todo mundo conseguiu conferir de forma normal, tendo que recorrer ao celular para filmar parte do show por cima das malditas placas de metal.

O calor em meio a multidão estava intenso e era difícil de se engalfinhar junto do imenso mar de gente. Mesmo assim, a vontade do público em ver o Sepultura (do Brasil!!!) estava escancarada nos olhos de todos os presentes. A banda está com Derick Green nos vocais desde a saída de Max Cavalera em 1996, e em pleno 2025 consegue ser relevante a ponto de lotar um show distante do convencional. Muitos podem reclamar, mas se estivessem presentes estariam aos prantos querendo ver Andreas Kisser, Derrick Green, Paulo Xisto e o consolidado baterista Greyson Nekrutman “in action”!

Todavia, o show que estava previsto para acontecer às …, iniciou uns 20min depois. Porém, antes disso a “sepulnation” já ensaiava o coro:

“Sepultura! Sepultura! Sepultura!”

O início da jornada do Sepultura na 20ª Virada Cultural

O público estava querendo ver a banda aparecer logo no palco e foi o que aconteceu, de fato. O Sepultura adentrou ao palco e a abertura do show trouxe um mix de intros de várias músicas da banda, sendo várias dessas misturas com trechos de sons que seriam tocados nessa noite. Houve um momento em que tocou um trecho da abertura de uma música em específico e eu até perguntei: “Será que vão abrir com “Phantom Self”? Eles nunca fazem isso!”. E de fato, isso não aconteceu mesmo.

O início real aconteceu através do hino “Beneath the Remains”, faixa mais do que clássica e pertencente ao álbum homônimo de 1989, seguida de “Inner Self”, também sendo do mesmo álbum. Sendo assim, a curiosidade ficou por conta de terem tocado essas músicas fantásticas na mesma ordem do álbum. Esses dois abalos sísmicos sonoros provocaram fortes emoções no público presente, resultando em uma troca de energia incrível entre banda e fãs.

A sequência foi carimbada pela também clássica “Desperate Cry”, do outro álbum clássico, “Arise”, lançado em 1991. Porém, a surpresa maior ficou nas mãos de “Phantom Self”, uma das faixas de redenção e forma revigorada do Sepultura. A música é um dos singles de “Machine Messiah”, de 2017. Eu queria ver algo desse álbum ao vivo para ver como ficaria e pude presenciar e admirar o quanto ela funciona em um show. Todos vibraram e bangearam com ela. Ignoraram o fato de não ter a figura do Max no palco.

Sepultura traz uma sequência cheia de atitude

“Attitude”, do clássico e maior trabalho da banda, “Roots” (1996), trouxe o peso noventista ao show e funcionou muito bem para a adição de “Means to an End”, faixa do bem aclamado “Quadra” (2020). Ambas as canções deixaram a multidão presente ainda mais animada e a diversão era notada de longe!

Outra faixa mais nova que funciona muito bem ao vivo, mostrando que a banda segue em grande fase. Logo depois tivemos “a música que o Andreas roubou de mim”“Kairos”, do álbum autointitulado de 2011. Vale ressaltar que essa música é uma das melhores da fase Derrick e o seu formato é amplamente favorável para ser tocada ao vivo. Seu fácil refrão era cantado até mesmo por quem nem estava indo ver o show. Entretanto, a jornada prosseguiu com a ótima “The Treatment”, pertencente ao “A-Lex”, de 2013, e sendo tocada a primeira vez desde o ano do lançamento do álbum citado.

Outra grata surpresa a faixa “Guardians of Earth”, que também pertence ao “Quadra” e teve um trecho da instrumental “Jasco” (“Roots”) como introdução. Essa é outra faixa que traz muita energia para a apresentação, assim contagiando todos os presentes. “Choke” (“Against”, 1998) veio em seguida manteve o ímpeto musical em alta com sua levada pesada e com refrão empolgante.

O show mal havia começado e o Sepultura tinha um set cheio para apresentar. Andreas comentou com o público que dessa vez tocariam algo antigo, mais voltado ao início de carreira, ligado ao old school Thrash Metal, voltando ao ano de 1987.

“Schizophreniaaa!!!”

Sem escapatória

A insana “Escape to the Void” toma o evento de assalto e instaura o caos no asfalto onde estavam as pessoas. A forma como ela foi tocada foi contagiante a ponto de se tornar um dos pontos mais altos de um show já excelente. O público vibrou muito com o anúncio do Andreas mesmo não sendo nada inédito. Afinal, essa faixa é tocada costumeiramente.

Logo após essa fantástica viagem até o ano citado, tivemos um interlúdio com uma amostra de vídeo da gravação do “Roots” com a tribo Xavantes. Isso serviu de abertura para que a instrumental e tribal “Kaiowas” fosse tocada com todos aqueles tambores, além da participação dos convidados, a … Isso foi legal e é tadicional das apresntações do Sepultura, mas algo muito mais interessante estava por vir…

“Dead Embryonic Cells”, faixa emblemática do “Arise”, incendeia o evento com sua magnífica chuva de riffs malevolentes. Essa música nunca pode faltar em um show do Sepultura, pois ela carrega uma revolta muito marcante e que deve ser posta ao vivo sempre. O público sempre agradece e eu também. Outra surpresa pra mim foi a intro de “Agony of Defeat”, faixa do “Quadra” em que Derrick utiliza seus vocais limpos e graves, porém mais suaves em contraste com as partes mais ásperas e carregadas de sentimento. Essa é minha faixa preferida do álbum e ao vivo se tornou ainda mais vibrante e qualificada.

Cover histórico reduzido e mais clássicos despejados

E não poderia faltar um dos maiores e melhores covers já feitos: “Orgasmatron”, coverzaço da clássica música do Motörhead. Faixa esta pertencente ao álbum homônimo, lançado em 1986. Ela acabou sendo encurtada, talvez para caber o set todo. Mas mesmo assim, foi sensacional presencia-la novamente. E só para ilustrar, esse cover acabou sendo lançado em edições posteriores do “Arise”. Embora a ideia fosse lançar de imediato, mas acabou não havendo tempo hábil para tal. Eu mesmo possuo a edição mais antiga sem a adição desse incrível cover.

Também tivemos uma volta ainda mais distante no passado com “Troops of Doom”, faixa conhecidíssima do debut “Morbid Visions” (1986). Conferir ela ao vivo sempre me remete aos tempos em que eu compunha minhas primeiras músicas. Bons tempos quando eu rabiscava na guitarra. “Territory” foi a próxima demolição predial a ser tocada no Butantã e mostrou o empenho e a técnica de Greyson, funcionando como um verdadeiro baterista do Sepultura. Ou seja, o cara já se sente em casa!

Na virada da esquina veio logo “Refuse/Resist”, completando a dupla famosa do “Chaos A.D.” (1993). A dupla sempre faz caldeirão fervilhar e nunca falham em seus propósitos. Em suma, o domínio territorial é evidente. “Arise” foi a próxima e incendiou de vez a avenida local completamente abarrotada. E não parava de chegar gente ao lugar. Essa canção é aquele clássico que também não pode faltar. Ao lado de “Beneath the Remains”, é a faixa-título mais excepcional da banda.

Final esperado, porém muito bem executado

Minha super amiga Caruh Lima esteve comigo e ficou perguntando quando tocariam “Roots Bloody Roots”, faixa do álbum quase homônimo “Roots”. E eu disse que ela era a faixa apoteótica da banda. Antes disso, “Ratamahatta” foi tocada a plenos pulmões, sendo precedida por um excelente solo de bateria de Greyson.

Andreas dividiu os vocais com Derrick e ambos trabalharam muito bem. Enfim, para finalizar, “Roots Bloody Roots” começou e todo mundo agitou mesmo sem espaço. Gostem ou não, essa também é uma arrasa-quarteirão!

Outros destaques

O Sepultura se mostrou com muito vigor e não parece nem de longe uma banda a qual premedita um fim. A entrada de Greyson Nekrutman no lugar de Eloy Casagrande parece ter revigorado a alma do Andreas. Este, por sua vez, está detonando com uma timbragem de guitarra muito equilibrada e todos os solos estão completamente certos e sem nenhum tipo de falha ou empecilho.

Derrick encorpou mais a sua voz e está muito mais solto, cantando com tranquilidade cada som da banda, seja antigo ou mais recente. Além disso, a sua versatilidade já é notória e ele entrega tanto em estúdio quanto ao vivo.

Um dos integrantes não foi sequer citado até então e isso foi proposital. Paulo Xisto está tocando com vontade e muito empenho. Você consegue observar o seu esforço em entregar um bom trabalho sem se apoiar em algum artifício e falha de equipamento. Paulo também apresentou uma distorção de contrabaixo bem mais grave que o seu convencional. Portanto, você percebe as suas nuances no baixo e os seus momentos de ataque às tônicas. Portanto, isso preenche muitas lacunas deixadas pela falta de uma guitarra base. Essa timbragem não substitui a segunda guitarra, mas preenche muitos espaços e traz a sensação de estar tocando em estúdio e com a presença de quem está ouvindo.

Considerações sepulcrais

A Virada Cultural é um evento já tradicional e comemorou 20 anos de existência. Entretanto, muito se questiona por conta da conduta tomada nas últimas edições. De fato, a qualidade caiu vertiginosamente e isso se deve ao rumo tomado pelo sucesso forjado da não-música no Brasil. Mas o Sepultura esteve nessa edição para trazer um pouco de paz aos ouvidos sofridos de quem estava com a intenção de ouvir algo decente e qualificado ao invés de carniçais com vozes faladas e distorcidas através de um programa básico de computador.

Quanto ao show, mais uma vez foi uma apresentação formidável. Quanto ao local, este sim precisa ser revisto e a elaboração da estrutura idem. A comunicação para o deslocamento deveria ser facilitada através de avisos e informações passadas aos condutores dos veículos de transporte público. Claro que aqui não é a Suíça, mas são coisas simples de resolver. Bem que o palco do Rock poderia retornar à Praça da República… Quem sabe na próxima Virada, não é mesmo?! E com mais bandas de Metal, além do Sepultura do Brasil! 1, 2, 3, 4!

Setlist:

Mixed Intros
1. Beneath the Remains
2. Inner Self
3. Desperate Cry
4. Phantom Self
5. Attitude
6. Means to an End
7. Kairos
8. The Treatment
9. Guardians of Earth (com trecho de Jasco como introdução)
10. Choke
11. Escape to the Void
12. Interlúdio (pacote de vídeo da gravação de Roots com a tribo Xavante)
13. Kaiowas (convidados no palco)
14. Dead Embryonic Cells
15. Agony of Defeat
16. Orgasmatron (Motörhead cover) (reduzido)
17. Troops of Doom
18. Territory
19. Refuse/Resist
20. Arise
21. Ratamahatta (precedido por solo de bateria)
22. Roots Bloody Roots

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