Em clima de despedida, Luís Maurício (Natiruts) reflete sobre a trajetória da banda e seu impacto na vida dos fãs

Em clima de despedida, Luís Maurício (Natiruts) reflete sobre a trajetória da banda e seu impacto na vida dos fãs
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Em clima de despedida, Luís Maurício, do Natiruts, reflete sobre a trajetória da banda e seu impacto na vida dos fãs
Divulgação

O Natiruts iniciou em 2024 sua turnê de despedida “Leve com Você”, que lotou estádios ao redor do Brasil com fãs que desejavam viver uma última experiência ao vivo ao lado da influente banda de reggae brasileira.

Apesar do grupo brasiliense ter sido surpreendido com a recepção em peso dos fãs, em conversa exclusiva com o TMDQA!, o baixista e cofundador do grupo, Luís Maurício, apontou que a turnê ajudou a banda a confirmar que não teria um melhor momento para encerrar sua carreira de quase 30 anos:

“Ali foi a constatação de que a gente realmente entregou o nosso melhor nesses 30 anos e que a gente construiu um trabalho muito sólido, deixando um legado que realmente vai ser atemporal, que vai cruzar gerações. Eu acho que a gente subiu uma prateleira, assim, na nossa carreira. Estamos pendurando as chuteiras, vamos dizer assim, na prateleira mais alta que a gente poderia.”

Além de uma sonoridade que vai desde melodias mais leves até batidas que fazem o público sair do chão, o Natiruts sempre apresentou mensagens positivas em suas músicas e, ao longo dos anos, Luís foi entendendo de que forma isso chegou para o público do grupo:

“Eu pude perceber isso ao longo da carreira, o efeito deste impacto das letras, das mensagens, na vida das pessoas. E aí a gente foi percebendo a nossa responsabilidade que era muito além do entretenimento da música só, da canção. A gente realmente fazia diferença na vida das pessoas, e eu pude perceber isso e sou muito grato porque eu participei de uma banda, participo ainda de uma banda, que tem um impacto muito além da canção, da música, na vida das pessoas. Realmente, a gente começou a escutar e continua ouvindo relatos maravilhosos de pessoas que falavam tanto de momentos difíceis quanto momentos de muita alegria.”

Natiruts no Festival de Verão Salvador

No dia 25 de Janeiro, a banda liderada por Alexandre Carlo vai levar toda a sua energia positiva e clássicos do reggae para o palco do Festival de Verão Salvador. Como lembrou Luís, o Natiruts marcou presença na primeira edição do evento em 1999, quando eles ainda se chamavam Nativus.

Sobre essa experiência e o retorno ao evento, no qual a banda já tocou em outros anos também, o baixista disse:

“Teve uma repercussão incrível para a gente, que estava começando. Então, alavancou e impulsionou muito a nossa carreira, da gente levar as músicas para um âmbito nacional mesmo, de entrar na casa das pessoas, e estar voltando nesse momento de encerramento de ciclo para o Festival de Verão Salvador é incrível.

A gente ama a Bahia. Até por toda a cultura, toda a musicalidade que a Bahia carrega. Eu amo a Bahia, o Alê também, a gente adora toda a cultura, toda a musicalidade, tudo que a Bahia contribuiu para o Brasil, para a cultura brasileira. Então, estou muito feliz e super animado com esse show.”

O show em Salvador integra a lista de datas adicionadas na turnê de despedida do Natiruts ao longo de 2025. O grupo está previsto para encerrar a excursão em Brasília, na Arena BRB Mané Garrincha – mesmo local em que a turnê começou – no dia 2 de Agosto.

Confira abaixo o papo na íntegra com Luís Maurício!

TMDQA! Entrevista Natiruts

TMDQA!: Luís, eu queria saber um pouco de como foi o ano de 2024. Vocês realizaram a primeira parte da turnê de despedida do Natiruts, como foi rodar o Brasil com ela?

Luís Maurício: Foi maravilhoso. Na verdade, a gente estava até um pouco apreensivo no começo quando falaram que a gente ia tocar em estádio de futebol, nessas arenas gigantescas. Porque a gente não sabia como é que ia ser, não sabia que a gente era tão querido, na verdade. Foi uma grata surpresa quando abriu as vendas e fomos vendo que estavam esgotando os estádios. Então, aumentou a nossa responsabilidade, porque a gente se deu conta que realmente a gente ia tocar em lugares, estádios lotados. E aí, quando foi acontecendo, o primeiro show, que foi aqui em Brasília, inclusive, aqui em casa, no dia do meu aniversário, tive esse presente de aniversário. iniciar a turnê de despedida em casa, aqui no estádio, no Mané Garrincha, que é o nosso estádio e 50 mil pessoas. Foi uma festa maravilhosa. E aqui em Brasília é diferente, porque a família vem, os amigos, gente que acompanhou a gente desde sempre. Então, já começamos muito bem. E assim foi acontecendo os outros shows e a gente recebendo um carinho que a gente não esperava, realmente não esperava.

A gente não tinha noção que a banda era tão querida, que tinha tanta gente. A gente chegou a fazer quatro Allianz Parque, em São Paulo. E também a gente nunca imaginou, porque a gente pensa assim, que banda que fez quatro Allianz Parque no Brasil? E a gente não sabe nem responder. E aí a gente se encontrou nesse lugar. Então, realmente, 2024 foi um presente na nossa carreira, na nossa vida. Realmente mostrou que a gente estava no caminho certo, quando a gente decidiu fazer essa coisa que pra muitos é uma loucura. Pô, vão terminar uma banda, uma banda de tanto sucesso. Mas ali foi a constatação que a gente está parando no momento certo, porque a gente considerou que realmente chegamos no topo, onde a gente nunca imaginou chegar, a gente bateu no teto, dali pra cima não dá pra ir mais.

TMDQA!: Eu ia te perguntar exatamente isso Luis, com toda essa repercussão vocês em algum momento do ano passado sentiram um arrependimento de ter anunciado o fim da banda? Vocês chegaram a conversar algo como, “poxa, será que era pra gente ter anunciado o fim mesmo”?

Luís Maurício: Não, foi justamente o contrário. Ali foi a constatação que a gente realmente entregou o nosso melhor nesses 30 anos e que a gente construiu um trabalho muito sólido, deixando um legado que realmente vai ser atemporal, que vai cruzar gerações. E eu acho que a gente subiu uma prateleira, assim, na nossa carreira. Estamos pendurando as chuteiras, vamos dizer assim, na prateleira mais alta que a gente poderia. Então, eu acho que foi justamente essa sensação. Foi o que foi me dando a sensação ao longo da turnê. Eu falei assim, cara, como a gente foi feliz e abençoado mais uma vez. Nossa carreira foi muito abençoada desde o início. E nesse fechamento de ciclo foi uma coroação.

TMDQA!: Falando um pouco sobre esse início da carreira de vocês, Quando vocês fundaram o Natiruts, e ainda se chamavam Nativus, vocês eram uma banda de reggae em um momento em que a cena musical de Brasília estava bem voltada para o Rock. Como é para vocês lembrar daquela época e ver que conseguiram superar essas barreiras e se tornar essa banda que alcançou tantas coisas?

Luís Maurício: Bom, isso aí é uma coisa que dá muito orgulho, na verdade. Porque, como você falou, era tudo muito estranho. A gente vindo da capital do rock, fazer um reggae no começo da nossa carreira pessoal. Quem não estava muito ligado e escutava o nosso som, perguntava se a gente ia fazer show aqui. Perguntava, de onde é essa banda? Banda do Rio? Banda da Bahia? Porque nós sempre tínhamos esse costume de relacionar o reggae com o litoral, com a coisa natural. E aí se surpreendia que não era daqui mesmo, é de Brasília. E a nossa carreira foi construída em cima, realmente, das canções mesmo, da força da canção, do palco, dos shows, do ao vivo. Então, acho que por isso que foi construída uma carreira muito sólida, que foi um contato direto com o público. A gente ainda pegou uma era antes da internet, desse boom da internet, de rede social. Então, a nossa divulgação realmente era o nosso show. E as pessoas iam no show, gostavam, falavam pros amigos, aí a gente voltava nas cidades, aí a gente tocava pra mais gente.

Então, dá muito orgulho de ver que realmente foi uma banda de verdade, que construiu sua carreira sem precisar de uma grande polêmica, uma grande exposição na mídia, aquelas coisas que a gente vê acontecendo, respeita também, acho que cada artista tem a sua história. Mas fomos uma banda que não foi da mídia pro público. A gente foi do público pra mídia. Eu falo brincando, mas falando sério, que se eu tivesse a oportunidade de ter uma conversa com Deus lá atrás, eu [diria que] queria ser o baixista de uma banda de reggae chamada Natiruts. Então, eu sou muito feliz com tudo.

TMDQA!: E o Natiruts se tornou uma das principais referências da cena nacional do reggae ao longo dessas quase três décadas e acredito que o trabalho de vocês foi atraindo públicos de diferentes gerações. Vocês percebem isso durante os shows, principalmente nessas últimas apresentações?

Luís Maurício: Sim, nesses últimos shows, muito. Porque realmente é uma oportunidade pra muita gente de estar vendo o show pela última vez e levando os filhos, que nunca assistiram. Mas a primeira vez que eu percebi isso foi num show em Lisboa. Nessa época, a gente já estava falando, acho que foi até antes da pandemia, e a gente já falava sobre qual ia ser o momento certo da gente parar. E aí, quando veio a pandemia, acabou mudando um pouco, adiando um pouco esse plano. Mas num show em Lisboa, eu fiquei reparando na frente, tinha um senhor, mais velho, com uma pessoa, uma mulher, e uma criança, um baixinho, pequenininho. E aí, eu fiquei pensando, pô, será que é um casal com um filho? Mas, pô, o senhor já está muito de idade. Fiquei tentando fazer essa leitura, e depois do show, eu tive a oportunidade de conhecê-los. E eram exatamente três gerações, que foi passando… A mãe passou para o pai, não foi o pai que passou para a filha no caso. A mãe passou para o pai dela, que adorou a gente, gostou da banda, e passou para o filhinho também. Então, foram três gerações.

E eu lembro que nessa época, eu até brinquei com o Alexandre, falei, acho que está chegando a hora da gente parar. Já são três gerações e isso aí, eu acho que é o maior desafio do artista, a gente conseguir passar de geração para geração, é sinal que realmente é uma música, como eu falei no começo, é atemporal, não é um modismo. Talvez, daqui a 10, 20 anos, ainda vai ter gente ouvindo Natiruts e passando para outras gerações, né?

TMDQA!: Com certeza. E acho que isso também vem muito do estilo das músicas de vocês, tanto da sonoridade como pelas letras também. Vocês sempre trouxeram mensagens positivas, mesmo quando abordavam assuntos mais sérios. Quais eram as principais mensagens que vocês pensaram em passar para o público através das músicas?

Luís Maurício: Isso aí foi uma coisa que a gente foi percebendo ao longo da carreira. Eu lembro que o Alexandre, que é o nosso poeta, o cara da caneta mesmo, quando ele mostrou as primeiras canções, eu até falo, isso porque eu consegui sentir o que muita gente sente quando escuta uma música. Eu lembro que a gente gravou a primeira fita demo e eu botava as músicas e ficava refletindo nas letras, nas canções, e aquilo me trazia um pouco de paz, me fazia pensar.

E eu pude perceber isso ao longo da carreira, o efeito deste impacto das letras, das mensagens, na vida das pessoas. E aí a gente foi percebendo a nossa responsabilidade que era muito além do entretenimento da música só, da canção. A gente realmente fazia diferença na vida das pessoas, e eu pude perceber isso e sou muito grato porque eu participei de uma banda, participo ainda de uma banda, que tem um impacto muito além da canção, da música, na vida das pessoas. Realmente a gente começou a escutar e continua ouvindo relatos maravilhosos de pessoas que falavam tanto de momentos difíceis quanto momentos de muita alegria. “pô, eu estava em depressão, estava passando um momento muito difícil”, e conta várias histórias, “encontrei na música de vocês aquele acalanto naquele momento ali”, então a gente fica muito feliz. E momentos de alegria também. “Conheci meu marido ouvindo o som de vocês, casei ouvindo o som de vocês, hoje eu vou botar meu filho para ninar ouvindo o som de vocês”. Então é muito legal, cara, é muito legal a gente participar da vida das pessoas de algum jeito.

TMDQA!: Agora em janeiro completa 10 anos da gravação do Natiruts Reggae Brasil, projeto que vocês gravaram aqui em Salvador e que reuniu uma série de convidados especiais, incluindo nomes de peso do Reggae. Eu quero saber um pouco de como foi aquele dia e como ele somou na carreira de vocês?

Luís Maurício: A gente sempre inventando moda, inventando coisas assim maluca, né? E a gente tinha feito o acústico no Rio de Janeiro, que já foi talvez uma das maiores loucuras que a gente fez, porque levar um show para cima de uma montanha e de tudo aquilo lá, correndo risco de chuva, como foi o dia anterior. Eram dois dias de gravação, o primeiro dia não teve gravação, foi só chuva, e a gente apostando tudo naquele segundo dia de gravação. Quando chegou a hora de fazer o Reggae Brasil, o nosso intuito era justamente dar visibilidade para uma cena reggae que já acontece desde a época do Gilberto Gil. Porque o Gilberto Gil, quando fez a regravação da música do Bob Marley, ele apresentou o reggae para muita gente, apresentou o Bob Marley para muita gente, e o nosso intuito era justamente a gente tentar contar um pouco dessa história da cena reggae, muito além do Natiruts.

E quando a gente começou a convidar as pessoas, e elas começaram a aceitar e a entender, aquilo foi ganhando força e a gente foi chamando a grande maioria dos artistas reggae do Brasil que já tinham uma história ou que já tinham alguma música de sucesso estourando, e, cara, eu lembro que foi muita gente, que aí até transcendeu o reggae. Por ser na Bahia, a gente acabou chamando o Saulo, que é um grande amigo, a Ivete, que é uma grande amiga, para participar desse momento. Mas pra gente foi histórico porque a gente conseguiu juntar Gilberto Gil, Edson Gomes, Edson Gomes é super difícil de participar dessas coisas, e ele foi, participou, gravamos duas músicas com ele, e eu acho que ali foi uma grande celebração do reggae. A gente tentou unificar o reggae, que sempre teve uma guerrinha, vamos dizer assim, velada, ah, não é roots, fulano é pop, ah, ciclano as letras são assim, assado, o outro é mais engajado aqui. E ali quando eu vi, estava o mais pop conversando com o mais roots, e todo mundo junto, e feliz de estar junto ali naquele momento. Foi um marco na nossa carreira, e eu acho que no Reggae Nacional também ali, eu acho que só de todos que a gente convidou, e que a gente queria que estivesse presente, que não esteve presente, foi a Tribo de Jah, do Maranhão, foi a única que faltou nesse dia, de resto estava todo mundo lá. Também ficou faltando o Adão Negro que por algum motivo também não conseguiu ir.

TMDQA!: E falando em Salvador, vocês voltaram a se apresentar no festival de verão no final deste mês. Como é tocar novamente em um evento tão tradicional como esse, especialmente em um momento tão simbólico de despedida?

Luís Maurício: Quando a gente recebeu o convite eu fiquei muito feliz, porque, se eu não me engano, a gente participou do primeiro Festival de Verão de Salvador. Eu vou chutar aqui, mas eu não sei se foi 98 ou 99, ainda éramos banda Nativus. E foi o primeiro Festival de Verão de Salvador, e ele foi transmitido pela Rede Globo, meio à tarde, num horário nobre, de domingo, sábado à tarde, eu não sei, uma transmissão. Então, teve uma repercussão incrível para a gente que estava começando. Então, alavancou e impulsionou muito a nossa carreira, da gente levar as músicas para um âmbito nacional mesmo, de entrar na casa das pessoas, e estar voltando nesse momento de encerramento de ciclo para o Festival de Verão de Salvador é incrível.

A gente ama a Bahia. Até por toda a cultura, toda a musicalidade que a Bahia carrega. Eu amo a Bahia, o Alê também, a gente adora toda a cultura, toda a musicalidade, tudo que a Bahia contribuiu para o Brasil, para a cultura brasileira. Então, estou muito feliz e super animado com esse show. Show de festival acaba sendo um pouco mais curto, por causa das bandas, mas a gente vai tentar fazer um repertório para tentar contar um pouco dessa nossa trajetória inteira aí.

TMDQA!: Eu ia te perguntar sobre isso. Qual é a estratégia para escolher o repertório para um show de festival, que acaba tendo um tempo reduzido?

Luís Maurício: Tentamos colocar um pouquinho dos maiores sucessos, as músicas que a galera mais curte. E quando a gente foi fazer o repertório da turnê de despedida, a gente teve essa lembrança de pensar, pô, beleza, vamos botar as músicas mais conhecidas, os maiores hits, mas vamos lembrar de quais são as músicas que mais funcionam no ao vivo, que, às vezes, não necessariamente aquela música tem o maior hit, mas funciona muito bem no ao vivo, na hora do palco. E a gente fez meio que usou esse critério. E deu certo pra caramba. O show acho que tá com uma dinâmica bem legal, assim, do início ao fim. Acho que vai envolvendo a galera e termina lá em cima. Tem que terminar lá em cima.

TMDQA!: Pra gente encerrar, eu queria saber qual é o maior legado que o Natiruts vai deixar após quase 30 anos de estrada?

Luís Maurício: Nossa, pergunta até um pouco difícil de responder. Mas eu acho que o maior legado que o Natiruts vai deixar é esperança, sabe? Eu acho que as nossas canções, de alguma forma, elas levam esperança para as pessoas de dias melhores. E eu acho que esse legado vai permanecer e vai se perpetuar. Vai ser uma banda que deixou uma mensagem de muita esperança de dias melhores, de positividade mesmo, da gente acreditar que se tá ruim, vai passar. Eu acho que esse é o nosso maior legado, vai ser esse aí. Pelo menos eu gostaria que a gente fosse lembrado dessa forma.

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