Resenha: Sacrifice – “Volume Six” (2025)

Resenha: Sacrifice – “Volume Six” (2025)
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É muito bom ver um nome como o Sacrifice lançando um novo álbum de estúdio após 16 anos de silêncio. A última vez que o veterano grupo canadense se aventurou com material inédito tinha sido em 2009 com o ótimo “The Ones I Condemn”. Podemos afirmar que o quarteto não é o tipo de banda que lança álbuns apenas pela obrigação, mas quando realmente há algo que valha a pena.

Fundado em 1983 e contando com uma discografia relativamente pequena – são 6 discos com este mais recente – o grupo possui algumas particularidades dignas de nota. Nunca trocaram integrantes, mantendo desde o primeiro lançamento – “Torment In Fire” (1986) – o lineup constituído por Scott Watts (baixo), Rob Urbinati (guitarra e vocal), Joe Rico (guitarra) e Gus Pynn (bateria). Dessa forma, o Sacrifice consegue apresentar não apenas entrosamento, mas segurança, maturidade e, inegavelmente, uma identidade musical raríssima nos dias de hoje.

Um outro ponto interessante é que a banda encerrou atividades em 1993, retornando apenas em 2006. Com isso, se tornaram imunes ao erro crasso que acometeu boa parte dos nomes relacionados ao Thrash daquela época. Não há álbuns em que o Sacrifice tente soar mais comercial, com elementos de Groove e qualquer tipo de descaracterização imposta por tendências ou gravadoras. Quando você analisa a discografia como um todo se depara com uma trajetória praticamente ilibada e isso é algo dificílimo de acontecer.

Quem conhece os trabalhos anteriores, sabe o que esperar de “Volume Six”. Como em todos os outros, o Thrash Metal old school, cortante e visceral, reina soberano. A capacidade de criar faixas violentíssimas e repletas de riffs marcantes é uma especialidade da casa. E isso já fica evidenciado logo no começo da audição.

Reprodução

Tiro porrada e bomba

“Comatose”, “Antidote Of Poison” e “Missile” protagonizam uma das trincas de abertura mais explosivas de um disco recente de Thrash. Além do arsenal pesadíssimo de riffs, das linhas vocais saídas diretamente do inferno e a parte rítmica inegavelmente soando tão frenética quanto funcional, precisamos destacar a energia que emana do quarteto. Você consegue sentir de forma quase palpável a gana, a vontade, o ódio e o sangue nos olhos dos músicos. No final desta sequência inicial, você terá duas certezas:

  • 1) Seu pescoço foi severamente maltratado.
  • 2) O Sacrifice retornou, e retornou afiadíssimo!

Sobre a composição lírica, é esperado que momentos conturbados como estes que vivemos no mundo atualmente, com guerras, desastres naturais, políticas ineficazes e crises de todos os tipos, consequentemente, contribuam para o surgimento de ótimos discos de Thrash Metal. Afinal, o gênero sempre usou e abusou das críticas ácidas aos sistemas vigentes, previsões apocalípticas e, em boa parte do tempo, foi sóbrio o suficiente para se revoltar com as mazelas de nossa sociedade.

Bem, em “Comatose”, a canção de abertura, o guitarrista/vocalista Rob Urbinati demonstra que esta é exatamente a função de “Volume Six”:

“O Sacrifice geralmente usa temas bem sombrios e muitas letras foram escritas durante a pandemia, quando as coisas estavam parecendo bem apocalípticas, especialmente no começo. ‘Comatose’ vem da banda ter tocado muito em Vancouver e víamos a quantidade de abuso de drogas no centro de East Vancouver. Isso afeta você quando você vê seres humanos em todos os lugares com problemas extremos com drogas e paramédicos andando à noite em grupos de três basicamente procurando por pessoas que tiveram overdose ou morreram.”

Reprodução/Facebook

Mas como um todo, o músico explica que o disco trata de muitos outros temas, veja:

“Há isso, há política mundial, todas as guerras acontecendo, desastres naturais, metade do Canadá estava em chamas ano passado! O álbum é bem sombrio e acho que a arte transmite o conteúdo.”

Após 16 anos a navalha segue afiada

Em “Underneath Millenia” e “Your Hunger For War”, temos alguns ritmos mais cadenciados que podem relembrar momentos presentes em “Apocalypse Inside”, álbum de 1993. Mas mesmo assim, as canções ainda soam atualizadas, inseridas no atual contexto musical e colocadas em uma posição estratégica do tracklist.

Na sequência, “Incoming Mass Extinction” faz nossos pobres pescoços trabalharem mais uma vez. Logo depois, a porradaria sonora nos proporciona um curto intervalo com a instrumental “Lunar Eclipse”, mas na verdade, esta é uma composição que funciona como uma ponte para a música mais devastadora do track, a impiedosa “Explode”. Trata-se de uma hecatombe completa capaz de abalar e atordoar até o mais experiente ouvinte. Minha favorita com sobras.

“Black Hashish” é um retorno aos bons tempos em que bandas de Thrash Metal eram capazes de conceber temas instrumentais complexos, criativos e extremamente melodiosos. Tudo isso sem fazer a audição se tornar monótona e sem deixar a temperatura baixar. Contudo, no final ainda há tempo para um cover do Direct Action para “Trapped In A World”. No apagar das luzes, ficamos com aquele sentimento de satisfação plena somente proporcionado por grandes álbuns.

Photo: L.P. Chiasson Photography/ Facebook oficial Sacrifice

“Volume Six” foi gravado no Phase One Studios, em Toronto, e apresenta os trabalhos de produção, mixagem assim como de masterização de Darius Szepaniak. O registro sofreu alguns atrasos e isso gerou certa impaciência nos integrantes da banda, mas no final das contas tudo valeu a pena.

O álbum é um tiro certeiro no alvo e deve agradar todos os amantes de Thrash Metal old school. O Sacrifice está mais vivo do que nunca e torcemos para que finalmente recebam o devido reconhecimento. Uma banda com trabalhos tão importantes e assertivos merece muito mais holofotes.

Nota: 9

Integrantes:

Scott Watts (baixo)
Rob Urbinati (guitarra e vocal)
Joe Rico (guitarra)
Gus Pynn (bateria)

Faixas:

  1. Comatose
  2. Antidote Of Poison
  3. Missile
  4. Underneath Millennia
  5. Your Hunger For War
  6. Incoming Mass Extinction
  7. Lunar Eclipse (Instrumental)
  8. Explode
  9. Black Hashish (Instrumental)
  10. We Will Not Survive
  11. Trapped In A World (Direct Action cover)

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