Após 13 anos de ausência, a banda norte-americana Miss May I retornou a São Paulo para um show inesquecível no CityLights Music Hall. A noite contou com um público ensandecido que lotou o local com gritos ensurdecedores e uma fome por metalcore que parecia insaciável.
Formada em 2007, na cidade de Troy, Ohio, a banda é composta pelo vocalista Levi Benton, o baixista e backing vocal Ryan Neff, o guitarrista Elish Mullins e o baterista Jerod Boyd. Essa formação coesa, que evoluiu ao longo dos anos, provou mais uma vez por que o Miss May I é um dos pilares do gênero. A banda mistura breakdowns pesados com melodias cativantes.
O evento foi um verdadeiro reencontro, com fãs que esperaram mais de uma década para reviver a intensidade ao vivo. E o resultado foi uma noite que ultrapassou todas as expectativas. A noite ainda contou com os brasileiros do Into The Void e John Wayne.
Abertura digna do Into The Void
A abertura ficou com por conta do Into The Void que focou sua apresentação no seu debut, Existence is Nightmare (2022). Faixas como “Burn”, “Slaves” e “Greed” serviram para mostrar a brutalidade da banda. O destaque veio em “Desolation”, uma colaboração impactante com André Barrial do Fim da Aurora, que adicionou camadas vocais e emocionais. A performance elevou a canção a um hino de resiliência. Encerrando com “Orphans of Hope”, provaram ser um nome promissor dentro do gênero.
Em seguida veio o John Wayne trazendo o melhor do metalcore. A pancadaria começou com “Aliança” seguida por “Midas” e “Abel”. As colaborações se fizeram presentes em “Tempestade” com Daniel Martins do Into the Void , “Aliança, Pt. II” com Milton Aguiar do Bayside Kings. “Lágrimas” com André Barrial do Fim da Aurora fechou o set com muita agressividade. No geral, o setlist demonstrou a coesão da banda, criando uma conexão autêntica em uma performance curta, mas sólida.
Miss May I no palco
O palco baixo do CityLights Music Hall, que poderia ter sido um obstáculo para a visão do público mais distante, acabou se tornando apenas um detalhe irrelevante diante da energia avassaladora que tomou conta do local desde o primeiro acorde. Com “Hey Mister” abrindo o setlist, Levi Benton explodiu no microfone como um vulcão em erupção. Enquanto isso, o peso das guitarras cortava o ar com riffs agressivos que imediatamente incitaram os fãs à ação. Apesar da altura limitada do palco prejudicar a visibilidade para quem estava no fundo, os fervorosos fãs não perderam tempo: rodas se formaram logo nos primeiros segundos, transformando a pista em um turbilhão de corpos em colisão. O baixo de Neff e a bateria de Boyd serviam como a base perfeita para essa explosão inicial.
À medida que o show avançava para “Unconquered” e “Into Oblivion”, a conexão entre a banda e o público se intensificou, criando um ambiente caótico que parecia desafiar as leis da física. Essas músicas, com seus breakdowns implacáveis e refrões pegajosos, fizeram o CityLights tremer sob os pés dos headbangers. Os fãs não se contentaram em apenas assistir. Eles pularam, bateram cabeça e cantaram junto a plenos pulmões, transformando o espaço em um caldeirão de suor e adrenalina. A performance de Levi Benton, sempre carismático e intenso, elevou o nível. Ficou claro porque ele é considerado um dos frontman mais dinâmicos do metalcore. Mesmo com o palco baixo forçando-o a se mover com mais intensidade para manter o contato visual.
Imersão sonora
No coração do setlist, canções como “A Dance with Aera Cura”, “Architect” e “Deathless” destacaram a maturidade da banda, misturando elementos melódicos com a brutalidade que define o Miss May I. “Architect”, em particular, brilhou como um hino, ecoando como sinfonia do caos, enquanto o público respondia com um mosh pit ainda mais feroz. Essa parte do show foi um verdadeiro teste de resistência, onde as transições suaves entre as faixas mantiveram o fluxo ininterrupto. A bateria de Jerod Boyd ditava o ritmo como um relógio preciso. A imersão sonora foi total, com os fãs se perdendo nas camadas de som que evocavam temas de superação e luta, temas recorrentes na discografia da banda.
Com as execuções “I.H.E.”, “Under Fire” e “Bleed Together”, a intensidade atingiu seu pico, transformando o CityLights em uma arena onde os fãs se digladiavam nas rodas. Essas faixas mais pesadas, com seus riffs que parecem esmagar ossos, foram o combustível para que o mosh que não parasse por um instante, culminando em um clímax durante “Masses of a Dying Breed”. Ryan Neff, com seu baixo pulsante, adicionou uma camada extra de groove que fez o chão vibrar, enquanto Levi interagia diretamente com o público, incentivando moshes que pareciam desafiar a gravidade. A conexão emocional foi incrível, provando que o metalcore vai além do visual — é sobre a vibração visceral e a união entre banda e fãs.
Miss May I passou por São Paulo como um furacão
Fechando com “Relentless Chaos”, “Forgive and Forget” e “Shadows Inside”, os americanos não deixaram pedra sobre pedra. Em menos de uma hora de show, o Miss May I passou por São Paulo parecendo um furacão devastador que não teve piedade de quem ousasse ficar pela frente. De alma lavada, os fãs provaram que o espírito do metalcore é indomável, e a banda retribuiu com uma performance impecável que reafirmou seu status lendário. Após 13 anos, o retorno foi mais do que merecido, deixando um legado de suor, rodas insanas e memórias que ecoarão por muito tempo. Se você perdeu, corra atrás do próximo — o Miss May I nunca decepciona.
Confira as fotos exclusivas de nossa fotógrafa Marcela LorenzettI:
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